sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Música alienada?

Em Marxs, o conceito de “alienação do trabalho” sugere a reprodução do trabalho como forma de sobrevivência. “Trata-se de uma condição onde o trabalho ao invés de ser instrumento para a realização plena do homem e de sua condição torna-se, pelo contrário, um instrumento de escravização, acabando por desumanizá-lo, tendo sua vida e seu próprio valor medidos pelo seu poder de acumular e possuir”.
Tal análise na perspectiva da vivência profissional musical é visto como a ideia a que destacamos como reprodução do que faz sucesso, ou seja, trocando em miúdos, é mais fácil copiar o que está dando certo do que criar algo novo. Tal conceito de alienação é bastante visto hoje em dia no mercado musical brasileiro, e percebe-se um comodismo em apenas copiar, até mesmo em caráter estéticos, a música que tende a gerar mais lucros ao chamado público da “ostentação”, castrando qualquer meio de criação e inovação musical.
Adorno (2009, p.16), destaca que a música também não escapa do capitalismo, pois quanto mais qualidade em sua composição ela tiver, menos valorizado para o mercado será. No trecho “... a própria música inexoravelmente submeter-se-á, aí a sua condição de mercadoria: quanto mais elaborada menos procurada”, nos leva a reflexão de que a música é um produto e pode ser vendida pelas mídias, pois quanto menos elaborada, ou seja, mais fácil de tocar, de cantar, com letras de fácil absorção do tipo “chiclete” que gruda e não sai mais da cabeça, melhor será o resultado. As pessoas de algum modo não querem pensar, é mais fácil ter algo que sirva apenas para distraí-las, do que algo que as faça pensar.
Essa alienação tem se arrastado em vários gêneros musicais, não só aos que caracterizamos como “da mídia”, sertanejo universitário, forró ou funk carioca, mas também bandas e artistas de rock, pop ou mpb.
Quando citamos alguns programas de calouros brasileiros, logo analisamos por vezes, que alguns candidatos tendem a se tornar cópias de artistas americanos reproduzindo de forma alienada o que deu certo mundo a fora. Claro que o conceito de que tudo se copia não deve ser descartado, mas estamos devendo, e muito, em originalidade. Copiar tal qual, uma banda, um artista ou mesmo um guitarrista famoso é muito fácil, difícil mesmo é ser original e tornar-se referencia no mundo da música.
Por isso, devemos pensar em ser diferentes como artistas, tentar tirar o que somos na essência do nosso próprio “eu”. Não tente sermos o artista “x” buscando copia-lo, seja você mesmo. Crie sua música, improvise e não se preocupe em apenas copiar, seja original!

Texto extraído de minhas inquietações como artista.
Gleydson frota

ADORNO, Theodor W. Introdução a Sociologia da Música: doze preleções teóricas. São Paulo. Editora Unesp, 2009.
http://www.sociologia.com.br/karl-marx-a-alienacao-e-a-mais-valia/  - Acessado em 08/01/2016