quarta-feira, 9 de novembro de 2022

 

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA

 

*Gleydson Frota de Almeida

 

Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar quais os efeitos da música na pessoa autista e observar através de uma pesquisa bibliográfica de cunho exploratório, quais as relações entre música e autismo, bem como, analisar os benefícios da música na formação humana da pessoa com Transtorno do Espectro Autista - TEA. Foram realizadas leituras de textos de dissertações de mestrado, artigos, livros, e nessas leituras, destacamos os efeitos da música no autista podendo considerar que tal arte, sendo bem explorada, pode impactar positivamente em tratamentos de saúde mental com muitos resultados positivos. Como base literária, nos referendamos nos seguintes autores: BARBOSA (2010), FILHO (2022), GATTINO (2012), OLIVEIRA (2015), PENNA (2015), SEKEFF (2002).

 

Palavras-chave: Autismo. Música. Musicalização. Musicoterapia.

 

INTRODUÇÃO


         A música é uma importante ferramenta que há séculos tem ajudado a humanidade em questões relacionadas ao desafio de organizar a sociedade. Sejam em rituais religiosos, festas comemorativas, nas guerras, na movimentação do corpo ou no alívio para os problemas da alma, a música sempre esteve presente.

         É importante salientar que na Grécia antiga, Platão já deixava claro, em seu livro, A república, sobre a importância da música na educação daquela sociedade. A música para a alma e a ginástica para o corpo, colocava o indivíduo em equilíbrio “harmonizando-o com a ordem cósmica”. Platão citado por SEKEFF (2002), considerava a música como um remédio na cura de certas doenças, por isso definiu que “a música é o remédio da alma”.

         A prática musical como forma de terapia já vem sendo usada para tratamentos há décadas. Sua importância é inegável para ciência e por isso o sentido de pesquisa-la no auxílio em diversos tratamentos de saúde mental. De acordo com GAINZA (1988, p.22) “A música e o som, enquanto energia, estimulam o movimento interno e externo no homem; impulsionando na ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e grau”.

Este artigo tem como objetivo geral analisar através de uma pesquisa bibliográfica quais os efeitos da música na pessoa autista e como objetivos específicos pesquisar quais as relações entre música e autismo, bem como, analisar os benefícios da música na formação humana da pessoa com Transtorno do Espectro Autista - TEA.

De início, traremos a seguinte inquietação através da pergunta problema: Por que a música tem se tornado uma excelente ferramenta de comunicação da pessoa autista?

Classificamos esta pesquisa como artigo científico de revisão bibliográfica de cunho exploratório, tendo como objeto principal gerar novos conhecimentos sobre a temática do autismo ligada a música. Para tanto, analisaremos e discutiremos informações já publicadas sobre o tema utilizando conteúdos de livros, textos da internet, dissertações de mestrado e artigos científicos.

No primeiro capítulo, apresentaremos em breves palavras do que se trata a musicalização, seus conceitos e importância, já no segundo, discorreremos sobre como é trabalhado a musicoterapia, bem como os benefícios que a música traz para a pessoa com TEA, e qual a relação da música com os autistas. Por fim, as considerações finais e as referências em que se apoia este estudo.


2.    CONHECENDO A MUSICALIZAÇÃO


A musicalização consiste em trabalhar os conceitos musicais iniciais como a percepção rítmica, a melodia, compassos, etc. É o verdadeiro “be-a-bá” do estudo de música com os aprendizes. Geralmente associa-se musicalizar ao ensino de crianças, mas não necessariamente se aplica somente a elas.

É possível musicalizar adultos que nunca tiveram contato com o ensino de música. De acordo com PENNA (2015, p. 33) “musicalizar é desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la, recebendo o material sonoro/musical como significativo”.

Ritmos, pulsação, fórmulas de compasso, melodias, timbre, estilos musicais geralmente são assuntos que infelizmente não são estudados nas escolas brasileiras, apesar de possuírem em seu currículo o ensino de artes. A música ainda é vista somente como passatempo, entretenimento, como lazer e, no entanto, é uma das competências mais importantes na formação do indivíduo. Nas palavras a seguir, a autora ainda considera que:

 

Nessa perspectiva, não compreendemos a musicalização apenas como um procedimento da pedagogia musical, um conjunto de técnicas que se justificam em si mesmas, por sua função imediata como etapa preparatória para um estudo de música mais amplo e aprofundado, de caráter técnico ou profissionalizante. Não cabe tomar a musicalização, portanto, como um trabalho “pré-musical”, uma preparação para um aprendizado nos moldes tradicionais (o estudo de “teoria musical”, de um instrumento etc.). Tampouco a entendemos como dirigida somente a crianças (o que é uma visão bastante comum). (PENNA, 2015, p. 43)

                                  

Como citado acima, a musicalização vai além de procedimentos sobre a teoria musical padrão. Ela visa o aprendizado musical na prática vivenciando no corpo e na mente os sons e as técnicas musicais. Podendo ser realizada atividades de canto e improvisação musical. Ouvir, praticar e contextualizar também fazem parte de todo o processo de musicalização. Adaptação da proposta triangular (BARBOSA, 2010).

Por fim, a musicalização é uma importante ferramenta de educação, visto que trás consigo elementos musicais fundamentais para ajudar na formação rítmica, sensorial, artística e cultural dos indivíduos. Musicalizar é fazer conhecer os elementos importantes da música, além de ajudar as pessoas na construção de plateias mais críticas a estética da arte, fomentando melhor a cultura de um povo.


3.    O QUE A MUSICOTERAPIA TEM A CONTRIBUIR?

 

A musicoterapia surge na história a partir de uma ligação do ser humano com a arte dos sons. Se separarmos as palavras para explicar o seu significado ao pé da letra, em seu sentido epistemológico, teremos música ligada a terapia, ou seja, a utilização da música como instrumento de auxílio em tratamentos terapêuticos.

É importante frisar aqui que a música funciona, neste caso, apenas como um meio e não como fim, diferenciando-a da musicalização. O objetivo da musicoterapia é utilizar a arte como ferramenta ajudando na recuperação de pacientes.

Não se trata da estética musical, mas de como a música através de seus sons e sentidos ajuda no tratamento das pessoas com deficiência intelectual e múltipla e também de variadas doenças.

Ainda na Grécia antiga, como já citado, entendia-se a música como processo de cura natural do homem. Uma espécie de tratamento para alma, ou o “remédio para alma”.

Entre as atividades realizadas pelo musicoterapeuta estão tocar instrumentos musicais, cantar, compor, improvisar com a voz e com o corpo, ouvir música, realizar jogos musicais, entre outras. De acordo com GATTINO (2012, p.34), o processo musicoterapêutico está divido em três etapas:

Avaliação inicial: fase do processo terapêutico em que o terapeuta observa os pacientes e seus familiares responsáveis para compreender e identificar de que maneira o paciente e sua família se relacionam com a problemática apresentada.

O tratamento: fase do processo em que o paciente interage com as ferramentas básicas (música, sons, voz, corpo e instrumentos musicais).

A avaliação final: etapa em que o terapeuta irá avaliar se houve ou não a modificação da problemática do paciente em relação as avaliações iniciais.  

Baseado nestas etapas, é possível traçar uma metodologia de trabalho que auxilie o paciente em seu desenvolvimento mental e físico utilizando a música como uma ferramenta que lhe trará novos estímulos e até mesmo outras sensações de bem-estar.

Desde 1960 é utilizada a musicoterapia em pessoas com TEA. Essa terapia pode diminuir crises comportamentais, melhorar os relacionamentos interpessoais e trabalhar as emoções dos aprendentes.

É importante destacar que é de fundamental importância uma formação acadêmica na área de musicoterapia. Só terá capacidade técnica de atuar como musicoterapeuta a pessoa que fez o curso de especialização lato sensu na área ou graduação, além de possuir alguma experiência como educador musical. Neste sentido, vale ressaltar que:

 


o musicoterapêuta que queira promover maiores avanços em seus pacientes deve também estar atento à dimensão pedagógica de sua prática, aferindo e considerando as habilidades alcançadas. Da mesma forma, o educador musical que lida com alunos com deficiência deve estar atento às melhorias que seu aluno pode obter por meio do aprendizado musical e potencializá-las através do estímulo desses avanços (FREIRE, et al., 2017, p. 89).

  

Existe aqui uma dicotomia que em muitos casos causa confusão real sobre os assuntos em questão. É preciso diferenciar sobre o que vem a ser musicalização e musicoterapia. A musicalização como citada anteriormente é a arte de ensinar os conceitos da música para o indivíduo. Já a musicoterapia é a utilização da música como ferramenta para ajudar no tratamento de pacientes. É preciso diferenciá-los para que cada assunto seja desenvolvido de forma separada.

No geral, os dois termos têm como instrumental de trabalho a música, mas não nos custa aqui colocar cada assunto em seu devido processo metodológico de trabalho e finalidade.  

 

3.1. A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA


A pessoa com transtorno do espectro autista possui algumas características que discorreremos a seguir. Nos apoiaremos no material didático do curso de capacitação em autismo pela FAVENI (2022), no texto que trata sobre as características da pessoa com TEA, quando referido ao assunto destaca que “o transtorno do espectro autista, apresenta sintomas que podem causar prejuízos ou alterações básicas de comportamento, visto que o transtorno é definido como uma condição comportamental, também pode afetar a interação social da criança, dentre outras características como comportamentos repetitivos ou estereotipados, alterações na cognição, dificuldades na comunicação, como por exemplo, na aquisição da linguagem verbal e não verbal.” (p.4).

Alguns pontos são mais característicos na pessoa autista como a dificuldade de comunicação verbal, a falta de contato visual (o autista não costuma olhar as pessoas nos olhos), socialização e comportamento.

Como caracteriza ALMEIDA et al. (2018), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ser considerado como um dos transtornos que faz parte do grupo de transtorno de neurodesenvolvimento e ele é mais predominante na infância. Dois domínios centrais fazem parte do TEA e é caracterizado também por eles:

1) Padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses ou atividades;

2) Déficits na comunicação social e interação social. 

Neste ponto, podemos destacar a existência de uma comunicação não verbal através da música, já que a mesma facilita a organização de pontos de dificuldades atribuídos ao autismo como a dificuldade de ouvir barulhos muito altos, luzes ofuscantes, mudança de rotina, etc.

Diante disso, quais seriam as contribuições da música para as pessoas com TEA? Através da interação que ela proporciona, ocasionando assim estímulos a um diálogo que antes não seria permitido de maneira convencional.

É importante considerar que cada pessoa autista é diferente uma da outra e que isso provavelmente não se aplique a todos os indivíduos na mesma proporção, porém a música favorece bastante o aprendizado, e é de grande importância na busca por estes resultados.

Segundo FILHO (2022, p. 22): “a música é responsável pelo desenvolvimento nas áreas da linguagem, da socialização, do engajamento afetivo, da aprendizagem musical, da minimização de comportamentos estereotipados, do fortalecimento de vínculos familiares, da cognição, entre outros aspectos”.

Corroborando com estas definições, a prática musical para autistas soma na busca pela facilitação desta comunicação social, pois ao fazer música, o indivíduo além de atuar como ouvinte, exercita a socialização com outras pessoas, além de ativar áreas cerebrais que só o contato com a arte pode proporcionar.

É interessante saber que existem diversas metodologias que trabalham através da música enfatizando questões voltadas para a linguagem, socialização, raciocínio lógico/matemático, além de outras áreas voltadas para a formação da mente e do corpo.

É de se destacar que dentre essas metodologias existe a Musicoterapia Improvisacional que consiste em criar um espaço de relação onde musicoterapeuta e paciente sintam-se seguros e confiantes para interagir e desenvolver potenciais através do fazer musical livre utilizando a voz, o corpo e instrumentos musicais. GATTINO (2012, p.39).

 

3.2. EXISTE RELAÇÃO DA MÚSICA COM OS AUTISTAS?

 

             A relação existente da música com o autismo ainda é tema bastante pesquisado e não existem definições metodológicas que garantem que é assunto conclusivo. O que temos são pesquisas e práticas terapêuticas que nos levam a crer que é notória esta relação. Considerando que uma parte de pessoas autistas possuem um hiperfoco mais destacado para música e tal característica gera um interesse acentuadamente forte pelo assunto.

            Nas palavras de OLIVEIRA (2015, p.70), existe uma categoria de comportamentos autistas: “delineada pelos padrões de comunicação verbal precária, pouco contato visual, estereotipias, socialização muito deficiente, agressividade, desinteresse, evitação, passividade, reclusão, esvaimento, resistência, alheamento, pirraça, pouca afinidade, pouco engajamento”, e a música tem contribuído para mitigar esses resultados e tais comportamentos na vida dessas pessoas.

            Na comunicação verbal e visual é destacado a utilização da música como forma de comunicação sonora e como mais uma forma de expressão, na agressividade ajuda na suavização das sensações vividas e nas reações dos momentos, na interação, a contribuição da música se dá também, no convívio com outras crianças no fazer musical, na aprendizagem e no exercício focal para o seu desempenho cognitivo.

            Ainda podemos destacar que em consonância com o pensamento de OLIVEIRA (2015, p. 114), fica claro: 


O quanto a música afeta o indivíduo em sua globalidade, contribuindo em questões não estritamente musicais, como, por exemplo, nos déficits decorrentes da sintomatologia autista (socialização, comunicação e comportamento); no desenvolvimento cognitivo, beneficiando a capacidade de imitação, concentração, atenção, observação e percepção; e na movimentação corporal, desenvolvendo o andar, parar, correr, gesticular, dançar e pular.

 

O desenvolvimento musical de pessoas com TEA depende muito de estímulos produzidos em espaços voltados para educação especial. FILHO (2022, p. 24), nos diz que “o ponto central desta categoria diz respeito aos processos de aprendizado musical, com trabalhos que buscam estudar como eles acontecem com pessoas com TEA, seja em espaços não formais de educação especial, em escolas de música ou até mesmo em cursos de formação técnica”.

É muito comum ouvirmos relatos de pais de crianças autistas que afirmam que ao chamarem atenção de seus filhos reiteradamente através de discurso da fala não obtém sucesso, mas ao se comunicarem cantando eles atendem.

Isso nos faz refletir como a linguagem da música ativa sinapses cerebrais diferentes da fala, o que demandaria outro nível de aprofundamento. Por ora, reiteramos o desejo de mais pesquisas sobre a temática em trabalhos acadêmicos futuros.



4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

   

           Entendemos este trabalho como um pontapé inicial para pesquisas futuras sobre a temática da relação entre música e autismo e destacamos que a prática musical pode ter grande contribuição na formação social de crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista - TEA. Através de leituras e de alguns referenciais bibliográficos, percebemos o quanto a música impacta positivamente em tratamentos de pessoas autistas.

           Nessas leituras, analisamos quais os efeitos da música na pessoa autista e podemos considerar que tal arte, sendo bem trabalhada, pode auxiliar em tratamentos de saúde mental com resultados bastante significativos.

          Nossa inquietação inicial se entrelaçou nos pensamentos dos autores estudados até aqui e nos revelou que são inúmeros casos de crianças e jovens se beneficiando de resultados reais que envolvem a música como ferramenta terapêutica.

         Destacamos também sobre a importância de diferenciar os termos musicalização e musicoterapia. O primeiro tendo como finalidade o iniciar da prática musical, sendo que o outro se utiliza da música como ferramenta para tratamentos.

          Podemos analisar e perceber que a música tem um “poder” de inspiração humana e subjetiva, e isso não é diferente com a pessoa autista. No entanto, em muitos casos, existe o que chamamos de hiperfoco que pode desencadear um interesse extremo da pessoa com TEA por determinados assuntos, sendo esta uma característica relativamente comum nesta relação.

          Todas essas questões necessariamente devem ser trabalhadas com os autistas em seus tratamentos terapêuticos específicos. Encerramos esta análise com a célebre frase do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, quando nos diz que “sem música, a vida seria um erro”.


5. REFERENCIAS


ALMEIDA, Simone Saraiva de Abreu et al. Transtorno do espectro autista. Publisher,

[S. l.], p. 1-7, 19 jul. 2018. 

BARBOSA, Ana Mae. Abordagem triangular no ensino das artes e culturas visuais. Editora Cortez, 2010.

BRÉSCIA, V.L.P. (2003). Educação Musical. Bases Psicológicas e Ação Preventiva. S. Paulo: Átomo.

BERNARDINO, Isabel Maria. A música no desenvolvimento da comunicação e socialização da criança/ jovem com autismo. Dissertação de mestrado, 2013.

CRAVEIRO, Leomara. Musicoterapia e autismo: um “setting” em rizoma. Revista Brasileria de Musicoterapia, 5, 73-80, 2001.

FILHO, Sérgio Alexandre de Almeida. Educação musical e autismo: Um estudo sobre o desenvolvimento de crianças autistas na musicalização infantil. UFPB, João Pessoa, 2020.

FREIRE, M. H.; OLIVEIRA, G. C.; PARIZZI, M. B. Música e autismo: um relato de experiência entre a musicoterapia e a educação musical especial. Revista Brasileira de Musicoterapia, ano XIX, Ed. Especial, p. 85-90, 2017.

GAINZA, V. (1988) Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus, 3. ed.

GATTINO, Gustavo Schulz. Musicoterapia Aplicada à Avaliação da Comunicação não Verbal de Crianças com Transtorno do Espectro Autista. Revisão Sistemática e Estudo de Validação. UFRGS, Porto Alegre, 2012.

GATTINO, Gustavo Schulz. Musicoterapia e Autismo: Teoria e Prática. São Paulo: Memnon, 2015.

MARQUES, C. E. Perturbações do Espectro do Autismo. Coimbra: Quarteto editora, 2000, p. 69.

OLIVEIRA, Gleisson do Carmo. Desenvolvimento musical de crianças autistas em diferentes contextos de aprendizagem: um estudo exploratório. Belo Horizonte: Escola de Música da UFMG, 2015.

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino / Maura Penna. 2. ed. rev. e ampl. – Porto Alegre: Sulina, 2015.

SEKEFF, M. (2002). Da Música: Seus usos e recursos. S. Paulo: UNESP.

Platão e o poder da música. Folha de São Paulo, 2016. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/platao-e-o-poder-da-musica/. Acesso em: 23 de setembro de 2022.

Ensino de Artes: A abordagem triangular de Ana Mae Barbosa. Revista Contemporartes, 2018. Disponível em:  

https://revistacontemporartes.com.br/2018/12/14/ensino-de-artes-a-abordagem-triagular-de-ana-mae-barbosa/. Acesso em: 23 de setembro de 2022.

O autismo e suas características. Material didático. Centro Universitário Faveni (p.4)



*Gleydson Frota é graduado em pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA (2010), possui especialização em Arte e Educação com ênfase em Música – FVJ (2012), Psicopedagogia Clínica e Institucional - UCAM (2017) e atua como músico profissional e professor desde 2000.

 

domingo, 22 de julho de 2018

Artigo do Parfor/UVA


A CONTRIBUIÇÃO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ANÁLISES E OBSERVAÇÕES DO COLÉGIO ORIENTO DE GUARACIABA DO NORTE¹

Ana Raquel Rodrigues Torres²
Gleydson Frota de Almeida³



Resumo: Este artigo tem como objetivo geral compreender qual a utilização da música na sala de aula da educação infantil e como objetivos específicos investigar como a música pode auxiliar no desenvolvimento educacional das crianças do infantil V do Colégio Oriento e pesquisar quais os resultados atingidos com o auxílio da música nas aulas, bem como, de que maneira o professor trabalha com música em sala. As observações e entrevistas foram realizadas no Colégio Oriento na cidade de Guaraciaba do Norte no Ceará. A metodologia utilizada foi uma pesquisa exploratória de cunho qualitativo e o texto final foi fundamentado nas ideias e concepções de autores como: SILVA e GARCIA (2010), BRITO (2003), KRAMER (2003), entre outros.

Palavras-chave: Ensino. Educação Infantil. Música.



¹ Artigo apresentado como conclusão do curso de pedagogia Parfor/Uva, na universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, como requisito parcial para a obtenção do grau de segunda licenciatura em Pedagogia.
2 Aluna do curso de Pedagogia Parfor/Uva.
3 Especialista em Música pela FVJ. Professor do curso de Pedagogia PARFOR/UVA. E-mail: gleydsonfrota@hotmail.com




1. INTRODUÇÃO

 A apropriação da música é muito significativa para o desenvolvimento da criança, uma vez que ela convive desde muito cedo com o universo musical em vários momentos, essa apropriação por meio das atividades realizadas na sala de aula desperta e estimula a criança a desenvolver não somente o gosto musical, mas as habilidades relacionadas ao conhecimento do mundo letrado, facilitando sua aprendizagem com a leitura e escrita.
A prática docente tem como um dos objetivos principais colocar os envolvidos no processo educacional em constante desafio, porém sempre com o intuito de leva-lo a um grau maior do desenvolvimento de sua própria aprendizagem.
Além disso é necessário que o educador esteja sempre atento ao que pretende oferecer as crianças nesse processo tão significativo que é seu processo educacional e pessoal, uma vez que a criança ao ser inserida no meio escolar espera-se que se atenda a todos os seus desenvolvimentos portanto, o educador precisa estar firme ao método que pretende oferecer para que tudo seja significativo a esse momento de aprendizagem da criança.
Tratar da importância da música no processo educacional não é restringir-se apenas nas experiências lúdicas, mas é enxerga-la como uma possibilidade enorme de torna-la uma mediadora e facilitadora do desenvolvimento integral da criança, visando o espaço escolar como um ambiente que colabore nesse processo de aprendizagem, por tornar as aulas e atividades muito mais satisfatórias e estimulantes, além de ampliar o repertorio musical do aluno, tendo em vista que a música também é considerada bastante significativa na aprendizagem das crianças ao se apresentar como um bem cultural e merecedor de todos.
A musicalização infantil é um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto e a apreciação musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade, do senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória, da concentração, da atenção, da autodisciplina, do respeito ao próximo, da socialização e da afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação (BRÉCIA, 2003).
O artigo tem como objetivo geral compreender qual a utilização da música na sala de aula da educação infantil e como objetivos específicos investigar como a música pode auxiliar no desenvolvimento educacional das crianças do infantil V do Colégio Oriento e pesquisar quais os resultados atingidos com o auxílio da música nas aulas e de que maneira o professor trabalha com música em sala.
Os assuntos abordados foram Música e Educação; A importância do RCNEI nas práticas de ensino da educação infantil; A linguagem musical e a aprendizagem na educação infantil; O professor e o trabalho com música e por fim, os resultados e discussões no qual os dados foram analisados a partir de questionários culminando nas considerações finais.


2. MÚSICA E EDUCAÇÃO: UMA FERRAMENTA EM POTENCIAL PARA O DIÁLOGO

O Brasil possui uma grande riqueza musical e acredita-se que este potencial deve ser explorado e aproveitado em sala de aula com o intuito de aproximar a criança de seu poder de criar, de gerar beleza e de sentir alegria.  As canções de ninar, as cirandas de rodas e outras canções com as quais as crianças interagem. Sem esquecer a herança cultural recebida através das gerações.
Desta forma a música no contexto educacional busca estimular e desenvolver o pensamento, a linguagem e as expressões possibilitando à criança a descoberta dos sons que a rodeiam e com isso ser capaz de criar, novas formas de aprendizado.
A utilização da música enquanto maneira de expressar sentimentos há tempos que vem acontecendo nas mais antigas civilizações, pois através desta era possível a materialização de sentimentos como tristeza, alegria, vitalidade, hostilidade, dentre outros. Assim, a música já nestes tempos traduzia-se como instrumento imprescindível nas sociedades e sua forma de execução variava apenas em sofisticação, características grupais, dentre outros.
De acordo com Silva e Garcia (2010, p. 52):

A música é uma arte que está presente na humanidade desde as mais arcaicas sociedades, e em diversos momentos e situações, como um modo de expressar-se e manifestar sentimentos e momentos da vida, contribuindo para uma formação satisfatória do ser humano. A música é arte que se faz presente em diversos momentos da vida exercendo importante papel na formação do ser humano desde a infância, tendo em vista que ainda em fase intrauterina a criança já está interagindo com a linguagem musical.

Logo que o homem se identificou como um ser capaz de pensar, criar e recriar e tornar-se responsável pelos seus atos, sentiu a necessidade de expressar-se, de maneira que fosse possível transmitir, fazer-se compreender os seus pensamentos e ações. Diversas são as formas de comunicação, cada uma com sua peculiaridade, sejam os gestos, a dança, o teatro entre outras capazes de transmitir ao espectador aquilo que realmente se propunha que se compreenda.
A música, no entanto, em seu particular tem o poder de envolver, permitir que o indivíduo manifeste sua linguagem utilizando os sentidos, pois ela tem a capacidade de incentivar o homem de uma maneira singela exercendo seu papel de aperfeiçoamento do ser desde sua fase uterina quando a mesma é utilizada na concepção do ser, prosseguindo em todas as fases da vida do ser humano.
Gainza (1988, p. 28) menciona que “alguns indivíduos demonstram uma grande capacidade de introspecção, que se traduz na possibilidade de verbalizar suas próprias sensações, sentimentos, dificuldades e conquistas no campo musical”.
Diante disso a música é considerada uma forma de manifesto de pensamentos e sentimentos universal, pois tem a capacidade de adaptar-se a todos os gostos combinados aos sons e silêncios que lhes são dispostos ao longo do tempo, permitindo que a modifique de acordo com o tempo e necessidade.
Essas variações são possíveis e permitidas de acordo com a cultura, onde envolve várias situações como organização dos sons, definições de notas, ritmos e melodias entre outros atributos, que a música se permite alterar-se, ou simplesmente se definir para que seja estabelecida como interprete de muitas situações que a envolvem como uma criação da inteligência. Brito (2003, p. 31), nos fala que:

É difícil encontrar alguém que não se relacione com a música [...]: escutando, cantando, dançando, tocando um instrumento, em diferentes momentos e por diversas razões. [...] Surpreendemo-nos cantando aquela canção que parece ter “cola” e que não sai da nossa cabeça e não resistimos a, pelo menos, mexer os pés, reagindo a um ritmo envolvente [...]


A música é considerada como algo muito importante na vivência diária do ser humano, pois por meio de sua melodia e todos seus caracteres é capaz de transformar e adequar-se a diversas necessidades podendo trazer vários sentimentos como: alegria, tristeza, recordações, sensação de vitória, e em determinadas situações se faz muito útil, inclusive para promover a socialização, conduzir ao ensinamento e aprendizagem por ser algo que tem o poder de mexer com os afetos.
Com tal força, não é por acaso que a música é aplicada nas diversas áreas das atividades humana.  Ela se encontra atuante nos mais variados ambientes, como nas ruas, academias, bares, restaurante, em programas de TV, em vários tipos de eventos, são inúmeras a sua atuação, inclusive no âmbito educacional sendo o ponto de partida na maioria das vezes para a introdução de assuntos complexos ou até mesmo os mais simples com o intuito de elevar a aprendizagem a um nível maior, pois a mesma favorece um olhar mais amplo e menos complicado para o desenvolvimento das ações que lhe são atribuídas.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA LDB E DO RCNEI NAS PRÁTICAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para entender como a música se manifesta na educação infantil é necessário compreender o seu contexto histórico e analisar seus antecedentes no Brasil. É difícil pensar na educação musical aplicada nos moldes de antigamente, pois a educação infantil no Brasil tinha cunho estreitamente assistencialista.
Na esfera pública, o atendimento as crianças de 0 a 6 anos, começa em 1899, com a criação neste mesmo ano do Instituto de Proteção e Assistência a Infância no Brasil (KRAMER 2003).
Na historia da Educação no Brasil, cuidar das crianças surge como ideia pouco relevante na sociedade, e ainda permaneceria assim por muitos anos, com algumas mudanças acontecendo gradualmente, mas a ênfase era manter a ordem em sala de aula como define Loureiro (2003) que para a escola, o que importava era utilizar o canto como forma de controle e integração dos alunos, desse modo, pouco atenção era dada aos aspectos musicais na perspectiva pedagógica.
Leis e normas que regulariam a educação infantil apresentam de forma clara como a criança foi tratada em nossa educação. Apenas com a nova LDBEN (Brasil, 1996) instituída como lei nº 9.394, se contemplaria o ensino de artes no seu Art.26, da seguinte forma “componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma que promova desenvolvimento cultural dos alunos”
A partir daí a música passa ser uma linguagem possível dentro das artes na educação infantil já que faz parte da educação básica. A construção de uma metodologia para trabalhar a música na educação está legalmente aberta.
Em 1998, foi publicado, pelo ministério da Educação (MEC) o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI (Brasil,1998). Esse documento torna-se orientação metodológica para educação infantil, nele, o ensino de música está centrado em visões novas como a experimentação, que tem como fins musicais a interpretação, improvisação e a composição, ainda abrange a percepção tanto do silêncio quanto dos sons, e estruturas da organização musical.
O RCNEI (1998) dá ênfase à presença da música na educação infantil, o documento traz orientações, objetivos e conteúdos a serem trabalhados pelos professores. A concepção adotada pelo documento compreende a música como linguagem e área de conhecimento, considerando que esta tem estrutura e características próprias, devendo ser considerada como: produção, apreciação e reflexão.
O documento apresenta ainda orientações referentes aos conteúdos musicais, estes se encontram organizados em dois blocos “O fazer musical” – compreendido como improvisação (RCNEI, 1998, p.57), composição e interpretação e o da “Apreciação musical”, ambos referentes as questões da reflexão musical. A proposta do documento oficial é uma discussão sobre as práticas pedagógicas, aqui em especifico a de música.
De acordo com o RCNEI (1998, p. 55) para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de crianças de quatro a seis anos deverão ser aprofundados e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para que as crianças sejam capazes de:

• Explorar e identificar elementos da música para se expressar,
interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo;

• Perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos,
por meio de improvisações, composições e interpretações
musicais.


3. A LINGUAGEM MUSICAL E A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para uma visão voltada ao intelecto, o saber musical começa por meio do convívio com o ambiente, por meio de experiências reais, que ao longo do convívio levam a subjetividade. Dessa forma, o uso da linguagem musical segue o indivíduo ao longo de sua vida, formando-o com uma visão cultural musical desde muito cedo, o que concede a criança e posteriormente o adulto, instruído a desfrutar da música, sendo capaz de analisá-la e compreende-la.
Sendo assim na educação infantil a música tem um valor bastante significativo, pois a criança em seu amplo desenvolvimento poderá desenvolver-se rapidamente ao som de uma música direcionada a sua capacidade de compreensão não importando se ela domina a linguagem oral ou a linguagem escrita. Para Borges (2003, p. 115):

Música é arte [...] seu papel na Educação Infantil é o de proporcionar um momento de prazer ao ouvir, cantar, tocar e inventar sons e ritmos. Por este caminho, envolve o sujeito como um todo, influindo, beneficamente, nos diferentes aspectos de sua personalidade: suscitando variadas emoções, liberando tensões, inspirando ideias e imagens, estimulando percepções, acionando movimentos corporais e favorecendo as relações interindividuais.

Contudo, a música tornar-se capaz de transformar o ambiente escolar, deixando-o mais alegre e vantajoso à aprendizagem, favorecendo uma alegria que seja captada no momento propício, quanto a isso se torna a perspectiva fundamental da pedagogia, por tanto é necessário que dedicação das crianças seja incentivada, recompensada, ou seja, elas devem sentir-se importantes e valorizadas.
A música é feita para ser bela e o belo existe para proporcionar alegria, a alegria estética. O ensino da música tem por objetivo levar os alunos a um contato feliz com as obras musicais, fazê-los viver uma experiência de alegria a partir delas (SNYDERS, 2008).
Ao ser instruído pela música a criança volta toda atenção para aquilo que lhe é solicitado, usando a sua criatividade e sensibilidade, pois a música transmite alegria, liberdade, autoafirmação tornando a sua capacidade equilibrada e fortalecida.
Percebe-se que a música pode ser trabalhada em várias áreas da educação, como: expressão, raciocínio lógico matemático, ciências, entre outros, no entanto para fazer com que isso aconteça o professor deve elaborar estratégias que possa abranger todos os aspectos necessários para a aprendizagem do educando. Rosa (1990, p. 21) diz ainda que a música contribui:

[...] para o desenvolvimento da coordenação viso motora, da imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. Essas funções psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que constituem as diversas maneiras de adquirir conhecimento, ou seja, são a operações mentais que usamos para aprender, para raciocinar. A simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma série de aptidões importantes.


 Portanto, para as crianças de educação infantil é sugerido que grande parte dos conteúdos voltados para sua aprendizagem seja nele introduzido a música, pois como já comprovado situações lúdicas aplicadas em atividades dirigidas ao desenvolvimento da criança, deverão estar atentos às suas necessidades, uma vez que a criança encontra um ambiente afetivo, e favorável sua aprendizagem pode aprender com facilidade.
Assim sendo quando a criança tem oportunidade, na instituição de educação infantil, de vivência com a música acredita-se que ela a tenha como uma aliada, para seu próprio desenvolvimento reconhecendo-a como uma linguagem expressiva e comunicativa, onde se sentirá estimulada para todas as outras formas de aprendizagem incluindo a leitura e a escrita, tendo em vista que outras aptidões serão descobertas e trabalhadas como a compreensão, participação e segurança.
A música é um mecanismo que facilita a formação absoluta da criança, formação essa capaz de criar métodos para o mundo das letras, as músicas utilizadas pelo professor para que possa adentrar um conhecimento para as crianças, deve estar de acordo com seu nível, pois a mesma traz consigo sua própria vivencia ideologias, e particularidade.
A música tem o poder de ampliar todo o universo da criança, permitindo-a que se sinta livre, feliz, realizada, extraindo tudo de bom que possa existir dentro dela. Portanto a música apresenta-se como um intermédio entre a criança e seu crescimento uma vez que ela interagindo com o meio favorece todos os elementos necessários para sua aprendizagem.


3.1 O PROFESSOR E O TRABALHO COM A MÚSICA

O professor é o responsável pela mediação, a coordenação das atividades em sala de aula, e como tal deve saber utilizar a música no espaço escolar para que de fato possa ser um atrativo para as aulas sem desmerecer e perder as características de propriedade pedagógica e dessa forma desenvolver metodologias para que as aulas tornem-se mais significativas e eficientes. Conforme Saviani (2003, p. 40):

[...] a música é um tipo de arte com imenso potencial educativo já que, a par de manifestações estéticas por excelência, explicitamente ela se vincula a conhecimentos científicos ligados à física e à matemática além de exigir habilidade motora e destreza que a colocam, sem dúvida, como um dos recursos mais eficazes na direção de uma educação voltada para o objetivo de se atingir o desenvolvimento integral do ser humano.

É importante salientar que a música age de uma forma bastante reflexiva nas mais variadas áreas do desenvolvimento psicossocial, cognitiva, proporcionando o aluno uma postura mais ampla nas suas experiências de aprendizagem que seria de certa forma inviável para que a aprendizagem pudesse ocorrer. Na concepção de Correia (2003, p. 84-85):

A música auxilia na aprendizagem de várias matérias. Ela é componente histórico de qualquer época, portanto oferece condição de estudos na identificação de questões, comportamentos, fatos e contextos de determinada fase da história. Os estudantes podem apreciar várias questões sociais e políticas, escutando canções, música clássica ou comédias musicais. O professor pode utilizar a música em vários segmentos do conhecimento, sempre de forma prazerosa, bem como na expressão e comunicação, linguagem lógico-matemática, conhecimento científico, saúde e outras. Os currículos de ensino devem incentivar a interdisciplinaridade e suas várias possibilidades.

Quanto ao progresso do cognitivo linguístico, compreende-se que a criança desenvolve sua aprendizagem pelas situações que lhe são sugeridas, ou seja, quando ela tem a oportunidade de experimentar no dia a dia novo estimulo ou até mesmo situações conhecidas, porém com outra forma de introdução.
De qualquer forma a música é sempre uma boa opção para incentivar e atrair olhares principalmente das crianças da educação infantil, onde sem perceber as crianças iniciam sozinho o processo de sua própria alfabetização aprimorando tudo de uma só vez, com a mais pura simplicidade, onde o professor deve apenas intervir, porém se necessário, pois, a música em sua plenitude consegue abranger todas as áreas do conhecimento e desenvolvimento da criança, tornando mais fácil o trabalho do professor que deverá atender as necessidades apresentadas pela criança, assim como a criança demonstrará mais desenvoltura já que a mesma está aprendendo por meio das brincadeiras que as cantigas proporcionam.


4. TRILHANDO OS CAMINHOS METODOLÓGICOS

A análise de dados trata-se de resultados obtidos por meio da pesquisa exploratória e o instrumento de pesquisa foi desenvolvido através de observações, durante um período de um mês e entrevistas de cunho qualitativo utilizando questionários com perguntas semiestruturadas e questões fechadas sobre as temáticas tratadas aqui.
Os protagonistas da pesquisa foram duas professoras do Colégio Oriento onde uma tem 29 anos graduada em Matemática e Pedagogia e a outra tem 32 anos graduada em Letras e Pedagogia. Ambas têm em média oito anos de experiência.
Preservaremos os nomes dos pesquisados para proteger a identidade dos mesmos e utilizaremos siglas para as apresentações. P.1 para a professora 1 e P.2 para a professora 2.
Nas observações, pode-se analisar que as professores do infantil V utilizam a música como ferramenta pedagógica em suas aulas e atividades curriculares através do canto musical individual, que seria a voz cantada “a capella” que elas fazem com seus alunos e também por meio de recursos de caixas de som e cds.
O questionário apresentado aos entrevistados traz como problematização qual a concepção do uso da música na Educação infantil para as professoras em questão.
Como a música é utilizada em sala de aula? Se esta é trabalhada diariamente em sala como instrumento de auxilio pedagógico? Como as crianças reagem quando essa fermenta é usada em sala de aula? A música entra no planejamento pedagógico ou é inserida de modo espontâneo?
 As respostas serão relatadas a seguir:
Ao questionarmos sobre como a música é utilizada em sala, obtivemos as seguintes respostas.
P.1: “A música faz parte da rotina da sala, é aplicada na acolhida, na contação de história e despedida, além de ser utilizada como metodologia dos conteúdos.”
P.2 “Utilizo a música como uma ferramenta de aprendizagem, interação, socialismo, inserção de valores.”

Sobre o questionamento de como utilizar a música na sala, a cada dia tem necessidade de introduzir na aula algo novo, uma didática nova e sendo assim a música é esse novo instrumento que se faz presente e desperta estimulo, mas é preciso que os educadores introduzam esse material de acordo com a realidade do aluno, e que esse educador seja critico e reflita sobre sua pratica docente a fim de proporcionar aos seus alunos aulas mais dinâmicas e ludicidade.

            As respostas apreendidas referem-se ao uso da música em sala como instrumento de auxilio pedagógico.
P. 1: “Sim é uma ferramenta fundamental.”.
P.2: “Sim, trabalho a música diariamente como instrumento pedagógico que facilita a internalização de conhecimentos e conceitos intelectuais e sociais.”.

Partindo da resposta das professoras percebe-se um grande entusiasmo das mesmas ao relatar os questionamentos, e ambas relatam que com a utilização da música nas aulas, melhora o desenvolvimento intelectual além de desenvolver habilidades, concentração e coletividade nas crianças.
Visando a necessidade de uma aprendizagem mais relevante nos dias atuais se torna cada vez mais importante a ludicidade no âmbito escolar, pois ela facilita e é capaz de tornar o lugar mais acolhedor e favorável a aprendizagem. A música pode não somente ajudar as crianças no aprendizado, mas também, no processo de socialização e interação.
Conferimos o ponto de vista das professoras sobre como as crianças reagem quando a música é utilizada em sala de aula?
P.1: “Elas gostam, pois aguça a atenção, concentração, compreensão e interpretação.”
P.2: “As crianças reagem diante da música de maneira atraída, concreta e coorporativa, encantadas com a concretização da aprendizagem.”

De acordo com CHIARELLI; BARRETO (2005):

Atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés são experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o senso rítmico a coordenação motora, sendo fatores importantes também para o processo de aquisição da leitura e da escrita.


A música e a dança permitem a expressão pelo gesto e pelo movimento e tem a magia de proporcionar momentos alegres, descontraídos, agradáveis e prazerosos para as crianças. Através da música a criança aprende a se desenvolver pois é incentivada a construir conhecimento. Quando o professor utiliza a música na aprendizagem, a criança aprende com muito mais facilidade.
Diante das observações, notou se que as crianças gostam quando os professores trazem conteúdos que envolvem a música e isso favorece a aprendizagem das crianças, sem falar que para as mesmas aprender brincando é muito mais interessante.

Questionamos se música entra no planejamento pedagógico ou é inserida de modo espontâneo?
P.1: “As músicas empregadas nas aulas são inseridas no planejamento pois devem está conectadas a proposta pedagógica.”
P.2: “A música entra no planejamento de modo organizado dentro de um conteúdo, um conceito, como ferramenta de acolhida ou socialização, mas também entra de modo espontâneo como ferramenta de interação e descontração ou ainda compartilhamento.”.

A discussão a cerca dessa questão é bem complexa pois uma hora se faz de modo espontâneo, outra planejado, no entanto é importante planejar pois sabemos que ainda existem muitos professores que entram em sala de aula sem ter a menor noção do que vai fazer para seus alunos e trabalham de modo improvisado. Sabemos que o plano de aula é flexível, contudo planejar é essencial.
O planejamento é o instrumento para facilitar, dinamizar e perfeiçoar o trabalho pedagógico. É um momento de reflexão sobre a ação para melhor agir.
Na educação infantil, o planejamento deve ser entendido como o primeiro passo do processo de ensino aprendizagem.
As coletas desses dados fazem-se necessária, mas é preciso a sensibilização dos professores quanto ás possibilidades que a música tem de favorecer o bem estar e o crescimento dos alunos, pois ela (a música) fala diretamente ao corpo à mente e as emoções.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado com música pelas professoras do Colégio Oriento é de grande importância para as crianças do infantil V, pois proporciona a elas um melhor desempenho, concentração, autonomia e diversão além de ter um impacto positivo na aprendizagem do aluno e por que não dizer, das docentes.
O trabalho deixa claro que é preciso pesquisar bastante sobre esse universo, porém, não podemos deixar de perceber a importância do ensino de música nas escolas para crianças de todas as idades.
Ficou claro que após esta pesquisa, as crianças tiveram uma importante evolução social e desenvolvimento da linguagem oral, e foi possível notar que a música é uma importante linguagem artística cujo seu conhecimento favorece um ambiente prazeroso para o processo de ensino aprendizagem das crianças.  
Por fim, é necessário que a música seja inserida não só na estrutura curricular, mas no cotidiano da sala de aula para que ela seja capaz de ajudar os alunos, motivando-os e facilitando em seu processo de desenvolvimento social e educacional.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS    

BORGES, Teresa Maria Machado. A criança em idade pré-escolar: desenvolvimento e educação. 3°ed. Revisada e atualizada. Rio de Janeiro, 2003.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996. Editora do Brasil.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.

BRITO, Teca de Alencar. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança. São Paulo: Petrópolis, 2003.

CHIARELLI, Lígia Karina Meneghetti. A música como meio de desenvolver a inteligência e a integração do ser, Revista Recre@rte Nº3 Junho 2005: Instituto Catarinense de Pós-Graduação.  

CORREIA, Marcos Antonio. Música na Educação: uma possibilidade pedagógica. Revista Luminária, União da Vitória, PR, n. 6, p. 83-87, 2003. Publicação da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória. ISSN 1519-745-X
 
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical.3. ed. São Paulo: Summus, 1988.

KRAMER, Sônia. A Política do pré escolar no Brasil: A arte do disfarce. 7. ed. São Paulo: Cortez . 2003.

LOUREIRO, Alicia Maria Almeida. O ensino da música na escola fundamental. São Paulo: Papirus, 2003.

ROSA, Nereide Schilaro Santa. Educação musical para a pré-escola. São Paulo: Ática, 1990.

SAVIANI, Dermeval. Revista de Ciências da Educação. Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Ano 05-nº 09-2º semestre/2003.
SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
SILVA, D. G. da. A importância da música no processo de aprendizagem da criança na educação infantil: uma análise da literatura. 2010. Trabalho de conclusão de curso (Graduação e Pedagogia)- Universidade Estadual de Londrina, Londrina,  2010.