A MÚSICA COMO POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO SOCIAL: A EXPERIÊNCIA DA ESCOLA DE MÚSICA NO MUNICÍPIO DE SOBRAL-CEARÁ¹ |
Gleydson Frota de Almeida²
Ms.
Maria Valcidéa do Nascimento³
RESUMO
A investigação trata de um estudo de
caso de natureza bibliográfica, explicativa e descritiva de abordagem
qualitativa a partir de uma experiência com Educação Musical como possibilidade
de inclusão social realizada na Escola de Música José Wilson Brasil no
Município de Sobral-Ce tendo como objetivos refletir sobre a importância da
educação musical no processo de formação cultural das pessoas através da música,
portanto utilizamos à observação no lócus da pesquisa e entrevistas
semi-estruturadas com os diferentes segmentos: diretor, coordenadores, professores
e educandos e pais dos educandos desta Escola. Realizamos um estudo sobre a uma
trajetória histórica e a memória da música na cidade e na primeira etapa
realizou-se uma pesquisa com autores relacionados à história e memória da
música no contexto social da cidade de Sobral. A segunda parte da investigação realizou-se
uma pesquisa de campo no lócus onde se efetiva a experiência com educação
musical deste estudo. Detectamos que a educação pela música contribui para a
valorização e inclusão de jovens e crianças fortalecendo-lhes a identidade pela
formação cidadã, no entanto o estudo revela existir uma desvalorização por
parte do mercado profissional e que a música é importante para a realização
pessoal de inúmeros estudantes. Alguns
desses estudantes não querem
seguir profissionalmente na música por não verem oportunidade de emprego e
trabalho e acabam priorizando outros cursos do tipo computação e inglês por serem mais
rentáveis. Quanto à compreensão dos pais dos educandos sobre a importância da
música na formação dos seus filhos podemos dizer que a música permanece em
segundo plano no que concerne à importância dada pelos pais a educação escolar.
Referendamos nossa pesquisa a partir dos autores que têm relevantes pesquisas e
experiências com educação musical, dentre eles: Jeandot, (1990), Snyders (2008),
Stefani (1987), Schafer (1991). Constatamos que a música é uma ferramenta de
construção da sociedade e agente contribuinte na formação dos cidadãos para a
sociedade sobralense.
Palavras - chave: Inclusão social. Educação Musical. Cidadania.
INTRODUÇÃO
Nossa investigação versa
sobre os saberes e fazeres da linguagem musical visando tecer reflexões acerca da
Educação Musical e as possibilidades de inserção de crianças e jovens ao mundo
da cultura musical com foco na construção de identidades socioculturais e na
formação cidadã a partir da experiência da Escola de Música de Sobral-Ce.
A Música enquanto manifestação
artística e cultural faz parte do cenário da cultura vivenciada no município de
Sobral desde o século XIX, tendo registro de suas primeiras escolas por volta
do ano de 1813, sendo que nesta pesquisa realizarmos estudos teóricos,
metodológicos e sobre a história e memória da música na cidade de Sobral, ao
tempo em que analisamos as contribuições da música para o processo de
formação cultural e social de seus educandos.
Dentre os objetivos da Escola
de Música de Sobral consiste na inclusão de jovens e crianças oriundas de
Escolas públicas de Sobral através do acesso ao universo das linguagens
musicais para formação cidadã, além de oportunizar a estes estudantes o
fortalecimento de suas identidades que pelo caminho da educação musical melhorando
sua auto – estima pela aceitação ou sentimento de pertença a um grupo instituído
e socialmente aceito fato percebido quando estes educandos participam de
eventos sociais e sentem-se valorizados e apoiados nas apresentações por eles vivenciados.
Ao observar e analisar a Escola de Música na cidade de
Sobral traçou-se como procedimentos metodológicos uma pesquisa que se
destinassem as práticas e observações dentro da instituição e através de entrevistas com diversos segmentos sociais, como:
docentes, discentes, diretor e coordenador da escola e com pais de alunos, pretendendo
esclarecer em linhas gerais e em forma de artigo científico, qual a
contribuição e a importância da instituição na cidade e região, tendo como
idéia a divulgação dessas ações tomando como exemplo os benefícios propostos
para o ensino/aprendizagem que a educação musical soma na vida das pessoas.
A música é uma forma singular de conhecimento sensível,
pode ser considerada uma das expressões artísticas mais democráticas, pois está
presente no cotidiano das pessoas independente de posição social, raça, cor,
idade e sexo exercendo uma forte influência positiva na vida das pessoas.
Jeandot (2005) nos diz que a música penetra na alma dos seres humanos,
complementado seu pensamento podemos dizer que também está no coração e até no
corpo inteiro. Se fôssemos questionados sobre o que ela representa na vida de
cada um de nós provavelmente virá à tona muitas lembranças desde as músicas que
nos acalentaram e com outras experiências musicais que marcaram nossa infância
ou mais variados gostos e estilos musicais, bem como instrumentos e elementos
de contextos e épocas diferenciadas.
Ouvimos música todos os dias, aquela
que é escolhida pela pessoa, ou mesmo quando naturalmente nos é imposta pelo
ambiente ou na mídia, por exemplo. A música já está tão presente na vida do ser
humano que é difícil defini-la em uma frase, entretanto Stefani (1987, p. 13)
revela em seu pensamento que a música na vida das pessoas também pode ser
considerada como “pano de fundo, decoração, tapeçaria sonora”.
A cultura é vista como um importante meio de
reconstrução da identidade sociocultural e pode-se afirmar que não existe ser
humano sem cultura. A música está entre as atividades que ajudam para a
realização de tais objetivos, tendo um papel fundamental no desenvolvimento do
ser humano sem fronteiras de idade, cor ou classe social, e por tal motivo é
relevante pesquisar sua arte como processo de formação cidadã nas perspectivas
cultural e social. Com grande ênfase, à arte sempre se faz presente na vida e no
cotidiano das pessoas.
A música enquanto manifestação de expressão artístico-cultural
protagoniza diferentes momentos na vida das pessoas sejam eles alegres ou tristes.
Isto ocorre por ser a música uma das linguagens dos sentidos. Este sentimento
se faz presente nas mais variadas formas desde o relaxante canto dos pássaros,
nos rituais religiosos, nas festas ou mesmo para transmitir mensagens em cenas
teatrais, danças, ou mesmo, caracterizar personagens em novelas, filmes, momentos
especiais como festivais shows onde a canção
faz-se instrumento de apreciação, reflexão, produção e fruição enquanto forma
de arte.
Desde os primórdios da história da humanidade a música
representa peculiaridades e formas de ser e viver das mais diferentes civilizações
e povos, seja expressa em seus rituais, suas crenças e valores, portanto
constitui-se distintivo de cultura e identidade de um povo. Ancorado nestes
preceitos Jeandot (2005, p.12) afirma: “A música é uma linguagem universal como
muitos dialetos variando de cultura para cultura”.
Gardner (1994) em seus estudos sobre as inteligências
múltiplas ressalta a importância da música e afirma que esta funciona como uma
espécie de modalidade que desenvolve a mente humana promovendo o equilíbrio, a
sensibilidade e a percepção crítica das coisas, proporcionando um estado
agradável de bem-estar, facilitando a concentração e o desenvolvimento do
raciocínio, reforçando suas afirmações tanto como psicólogo e também como
pianista desde os treze anos de idade.
Observa-se uma participação cada vez mais presente de
projetos sociais envolvendo artes, tendo a música contribuindo como meio de
inclusão social, percebe-se uma grande contribuição na aprendizagem e na formação
do indivíduo como ser de direitos e deveres, na busca por construir ou
reconstruir melhores cidadãos com senso crítico sobre leitura de mundo e seu
papel na sociedade. Por isso a educação musical é um estudo tão importante para
a sociedade, e é uma das formas de expressão mais significativas da arte, auxiliando
na socialização, concentrarão, no desenvolvimento da coordenação motora, no
raciocínio lógico-matemático e até mesmo no processo de alfabetização das
pessoas, enfim, na construção e consolidação do
caráter humano.
Vygotsky
(1991) ressalta sobre a melhor maneira de integração das pessoas através da
inclusão delas em todas as atividades sociais em sua comunidade, desenvolvendo
assim uma maior integração com o outro, criando laços de confiança que o ajudam
em seu desenvolvimento afetivo e social, ou seja, é necessário o indivíduo se
relacionar com o outro, a fim de socializar-se na busca do autoconhecimento e
de seu papel como cidadão.
No
objetivo geral desta pesquisa buscamos conhecer e analisar as
contribuições da música como inclusão social da proposta da Escola de Música de
Sobral no processo de formação de educandos na construção da cidadania, tendo
com específicos: conhecer junto aos pais, educandos e educadores de que forma a
música pode contribuir na formação cognitiva, afetiva e cultural enquanto
instrumento de cidadania e refletir sobre as possibilidades e limites da
educação musical na integração e interação social dos educandos da Escola de
Música de Sobral.
Os dados coletados foram analisados sobre a ótica dos
teóricos e nos objetivos que nos propomos analisar. A pesquisa assim organizou-se nos seguintes
assuntos: Historicizando a Música no Brasil e no Mundo; Itinerários da Música no
município de Sobral: história e memória; Escola de Música de Sobral: Inicio e
papel social na formação cultural dos novos sobralenses, Interfaces dos fazeres
artísticos e pedagógicos sob olhar do músico e pedagogo e a apresentação dos
resultados e análises da pesquisa a partir dos diálogos decorrentes das
entrevistas, das percepções e observações. Em seguida tecemos as considerações
finais e algumas constatações apontando contribuições de fazeres pedagógicos em
nossa investigação.
2. Historicizando a Música no Brasil
e no Mundo
Existem várias experiências no
mundo que mostram a importançia da música no processo de formação humana das
sociedades. Pode-se analisar os costumes e a cultura do Egito antigo através de
suas imagens esculpidas nas gigantescas pirâmides, revelando que os egípcios
possuíram numerosas espécies de instrumentos musicais, tais como: harpas, alaúdes,
flautas, trompas e instrumentos de percussão.
Na Idade Média, em meados dos
séculos IV a XIV, os primeiros cristãos
desenvolveram sua arte como forma de exteriorizar não somente sensações, mas
sentimentos de integração religiosa. As primeiras canções surgiram enquanto
manifestações da fé, que a priori foram oriundas do cristianismo e era através
do canto gregoriano chamado posteriormente de Cantochão, que se aproximavam de
Deus. A música era simples e executada com vozes em uníssono, ou seja, numa
linha de melodia simples e igual a
todos.
Os gregos tinham como parte
integrante de sua cultura a música, e a utilizavam para a educação de seu povo
e era considerada elemento integrante da vida e do pensamento, fator
fundamental da educação do espírito e da formação do carater. Era parte
essencial do ensino da juventude.
Podemos afirmar
que a música no Brasil, mesmo sendo executada
pelos índios foi oficialmente reconhecida enquanto Educação Musical com a chegada das primeiras
missões jesuíticas ao país no século XVI. Neste período, a música, bem como as
demais artes, era empregada na catequese. Por esta época, os músicos
oriundos de Portugal organizavam-se nas chamadas irmandades.
A Educação Musical¹ oportuniza ao indivíduo o acesso à música enquanto arte,
linguagem e conhecimento. A educação musical, assim como a
educação geral faz parte da educação plena do indivíduo e acontece
assistematicamente na sociedade, por meio, principalmente da industria cultural
e do folclore e sistematicamente na escola ou em outras instituições de ensino.
A busca pelo
estudo da música nem sempre está atrelada a busca pela formação do músico profissional, muito embora para estes, os
conhecimentos desta área sejam importantes, mas para o preparo da musicalização
das pessoas no sentido de formar cidadãos cientes de sua cultura e de sua arte,
respeitando-a e associando-a a sua própria raiz. A prática musical tem como
busca também o envolvimento das pessoas para a apreciação músical, ou seja, a
música analisada como contemplação de sua forma estética, prepara as pessoas
para consolidação e formação de plateias e ajuda na construção cultural dos
indivíduos.
Segundo os PCNs
de Arte (2001):
Qualquer proposta de ensino que considere essa
diversidade precisa abrir espaço para o aluno trazer música para sala de aula,
acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser
significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação e
produção. A diversidade permite ao aluno a construção de hipóteses sobre o
lugar de cada obra no patrimônio musical da humanidade, aprimorando sua
condição de avaliar a qualidade das próprias produções e as dos outros.
Composições, improvisações e interpretações são os produtos da música. (2001, p. 75):
A Educação Musical no âmbito da
escola regular busca musicalizar os educandos, dando-lhes condições para que
compreenda sua forma de arte e de expressão e seu significado, conhecendo suas ferramentas para
análise quando ouvida ou a executada por alguém. Musicalizar é dar ao indivíduo
condiçoes básicas para a compreensão e utilização da linguagem musical. A Educação
Musical pode utilizar-se da música como meio ou como fim, dependendo dos
interesses do educando.
No século XX diversos educadores propuseram métodos
e estratégias para a Educação Musical ressaltando Dalcroze, na Suiça; Kodaly,
na Hungria; Orff,
na Alemanha; Suzuki, no Japão contribuindo para as
metodologias utilizadas no mundo inteiro principalmente na música erudita. O
que nos remete afirmar fortes influências metodológicas nas práticas de
Educação Musical Villa-Lobos aqui no Brasil.
Villa-Lobos (1887-1959) protagoniza a dialética entre a cisão
da música erudita com a música popular brasileira, traduzida em suas práticas
metodológicas desde o convívio com o refinamento da música erudita e o entrelaçamento
desta com as rodas de samba e choro. O que caracteriza a valorização da música
nacional.
A educação musical é um assunto discutido há muito tempo, o próprio Villa
Lobos durante a revolução na década de 30, no governo de Getúlio Vargas, quando
iniciou um sistema de ensino musical obrigatório nas escolas do Brasil, mostrava
a preocupação e a importância de se desenvolver uma prática que envolvesse a
musica nas escolas como forma de educar para o caráter de humanização das
pessoas. Villa-Lobos era uma tradicionalista e estava preocupado com a elevação
artístico-musical do povo brasileiro, ele acreditava que se todos estudassem
música nas escolas estariam contribuindo para transformá-la numa vivência
cotidiana e formando um público sensibilizado às manifestações artísticas.
Ele propôs o Canto Orfeônico que tinha
como objetivo primordial auxiliar o desenvolvimento artístico da criança e
produzir adultos musicalmente alfabetizados. O canto orfeônico consistia na realização do canto coral em conjunto, ou
seja “canto coletivo”. A origem da palavra orfeônica vem da França no século XIX. O
termo “orfeão” (orpheón), se referia aos conjuntos de discentes das
instituições regulares de ensino que se reuniam para cantar em apresentações e
audições públicas.
A proposta de Lobos esteve
presente nas escolas brasileiras até o final da década de 1960, momento em que
desaparece paulatinamente da educação. Isto aconteceu,
entre outros motivos, depois da promulgação da Lei 5.692/1971, a qual tornou
obrigatório o ensino de artes instituindo a chamada polivalência na disciplina
Educação Artística.
A lei nº
11.769 sancionada no dia 18 de Agosto de 2008 traz novamente como componente
curricular obrigatório o ensino da música nas escolas regulares. Conforme a lei
a música não deve ser uma disciplina separada na grade curricular, portanto
devendo ser ensinada como parte do conhecimento de Arte, sendo obrigatória no
Ensino Fundamental e Médio. Portanto, constituirá de modo à promoção do
desenvolvimento cultural dos alunos, fomentando a busca constante para o
aprendizado artístico e cultural dos educandos.
De
acordo com a Lei 11.769/2008 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da
música na educação básica.
Art.
26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento
escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e
locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
§
2º O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos
níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos.
§ 6o A música deverá ser
conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata
o § 2o deste artigo.
Tomando como base os PCNs de
Artes, percebe-se a preocupação para o estudo dessa área na formação do caráter
cultural das pessoas, pois segundo Brasil (2001) para que a aprendizagem
da música possa ser fundamental na formação de cidadãos é necessário que todos
tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes,
compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula. Envolvendo de
outros contextos culturais incluindo pessoas de saber popular no enriquecimento
do ensino e promovendo interação com os grupos musicais e artísticos das
localidades, a escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes
sensíveis, amadores talentosos ou músicos profissionais.
3. Itinerários da Música no município
de Sobral: história e memória
A história da música em Sobral passa pela a antiga história
da cidade. Em 1813 já havia em Sobral um professor de música de nome Eugênio
José da Silva que abre uma escola particular de música com aula de canto
orfeônico na cidade, desenvolvendo assim, o gosto pela arte musical nas
pessoas.
Em 1924, Sobral possuíra
sua primeira Banda de Música dirigida por Joaquim José da Silva Chaves, apesar
da precariedade dos instrumentos, a banda do Maestro Silva Chaves, durante
muito tempo fez-se presente nas festas religiosas e sociais da época. A música
em Sobral sempre foi uma prática importante na vida dos sobralenses. A banda de
música, por exemplo, é parte fundamental da história e memória mantendo-se até
hoje preservada a imagem e tradição, atuando em cerimônias e eventos
importantes na cidade.
No século XIX, por volta de 1848, existia em Sobral um
Major de Nome Ângelo José Ribeiro Duarte que tinha um enorme interesse em
promover estudos musicais na cidade. Por ocasião, contratou o maestro Galdino
José Gondim, natural de Canindé, para ministrar aulas de música erudita na
cidade e organizar uma orquestra. Sobral teria assim uma pequena orquestra
composta de poucos instrumentos de sopro e corda, salientando-se o
insubstituível zabumba, responsável pela correta marcação do ritmo. Gondim coordenou
a banda de música da época e tinha grande satisfação pela música. Faleceu em
1915 deixando numerosa descendência e uma família de musicistas.
O Prof. Galdino como era conhecido, tivera um filho
chamado Zacarias Gondim, e mais ou menos em 1879 resolve passar ao seu filho a
direção da banda, continuando, porém, a auxiliá-lo no canto, por ocasião das
missas cantadas e novenas.
A prática musical na cidade e principalmente em
atividades religiosas fica clara a partir do trecho do livro História de Sobral
de contada por FROTA² (1995):
Narra o mesmo Zacarias Gondim (loc. Cit): “Em 1832 ou
1835, por occasião de celebrar-se uma semana santa, em Sobral, foi convidada
para funccionar nos actos respectivos a orchestra de Areré, de Fortaleza. Se
pertencentes a ella ou vindas em seguida, o que é certo é que, logo depois ali
existiam trez músicos do Rio Grande do Norte: um violoncellista, um excelente
violinista e um cantor”. (1995 p. 412).
Maestro Zacarias
Gondim foi exímio compositor e escritor sobre assuntos musicais. Publicou os
seguintes trabalhos: Música e danças indígenas, Traços ligeiros sobre a
evolução da música no Brasil - na Revista do Instituto do Ceará - 1903, Música
popular ou nacional, Apreciação ao Hino do Ceará, Origem dos instrumentos
musicais, além de vários artigos sobre música sacra. Nascido em Sobral a 29 de
dezembro de 1851, foi professor de Música no Liceu do Ceará e Deputado
Provincial. Em 1891 o Maestro Zacarias mudou-se para Fortaleza para estudar
passando a responsabilidade da banda para seu irmão Raimundo Donizetti que era
professor de piano.
Por outro lado, na música popular, data-se anteriormente
a 1848 sobre a história de um músico sobralense que animava festas religiosas e
populares no entorno do Acaraú. Tratava-se de João do Rego, um cantador que utilizava
uma rabeca tocada por ele mesmo para acompanhar sua voz em apresentações
musicais.
A sociedade sobralense da época representada nas
famílias importantes, tinha a educação musical como retrato de formação humana
bem consolidada, mantendo a prática da arte como status social. Na maioria das
residências sobralenses tinha um piano para aulas de música e reuniões da
família frente a canções da época. O fato de ter em casa um piano privilégio de
poucas famílias ricas que podiam se dar ao luxo de ter um instrumento tão
importante e caro como piano em casa, assim o piano era um adorno de prestígio
que tornava muito mais valiosa à imagem da família perante a sociedade que
se denominava tradicionalista. De acordo com ARAÚJO (2005):
No ano de 1844 chega a Sobral, procedente de Canindé,
o maestro Galdino José Gondim, filho do professor Zacarias Vieira da Costa e de
Maria Luiza Gondim. A convite do Major Ângelo José Ribeiro Duarte assumiu a
direção da primeira banda de música da cidade, tendo ensinado a arte musical
durante mais de vinte anos, despertando vocações e formando artistas. Graças a
ele, o gosto pela música difundiu-se pela cidade. A partir desta data, dezenas
de pianos foram adquiridos pelas famílias sobralenses que enchiam de música
suas ruas provincianas da cidade. (2005, p. 145).
Miranda (2009) faz o recorte histórico e social da
época sobre o que acontecia na cidade do Rio de Janeiro:
[...] o Rio de Janeiro, de acanhado burgo colonial, se
transforma na nova capital do reino. A corte deslancha um surto musical:
introduz práticas de salão, novos gostos musicais como a ópera, instrumentos
como piano que, a partir de 1834, passou a fabricar aqui mesmo no país. Seu
ingresso nas residências ricas faz o ambiente musical se desenvolver ainda
mais. Minuetos, gavotas e valsas são cada vez mais difundidos, multiplicando e
animando saraus e bailes (2009, p. 51).
Por volta de 1886 em Sobral, chegava um português de
nome Antonio Fortunato Mouta, músico integrante de uma companhia dramática que
visitava a cidade. Mouta tocava bem violino conhecido na época por rabeca, e
outros instrumentos e assim foi fácil deixar a companhia e fixar residência em
Sobral e encontrar colocação em algumas bandas locais da cidade. Como a banda
do maestro Galdino Gondim era composta de elementos do Partido Liberal, a
liderança do Partido Conservador resolveu contratar o maestro Mouta para organizar
a sua, que se chamou Euterpe Sobralense.
A banda do
Mouta, ou a Euterpe Sobralense, gerou rivalidade na cidade com a banda
do Maestro Zacarias, principalmente com o surgimento dos partidos políticos.
Cada partido político fundou também o seu próprio clube recreativo, cujas
festas eram animadas pelas respectivas bandas de música. “Recreio Sobralense”
pertencia aos liberais e o “Cassino”, aos conservadores. Certa vez relata Dom
José, aconteceu um encontro das duas bandas na rua coronel José Sabóia, por
ocasião de uma passeata, travou-se uma luta entre os músicos, resultando
pancadas, instrumentos amassados e uma verdadeira guerra de ódios e antipatias
entre as bandas. A esse respeito, FROTA (1995) destaca:
Os clubes dançantes também entravam no assunto. O
“Recreio Sobralense” que funcionava no sobrado da Rua coronel José Sabóia, hoje
pertencente ao Sr. Francisco de Almeida Monte, era quase todo composto de
liberais e partidários da banda do Zacarias: ao passo que o “Cassino
Sobralense”, que tinha a sua sede no sobrado da Rua do Apolo, que pertenceu ao
Major Ângelo Duarte, era formado de conservadores e adeptos do Mouta . (1995,
p.416)
A rivalidade era o ponto alto no apoio partidário que
as bandas de música de Sobral tinham com seus candidatos, nas festas religiosas
notava-se o espírito partidário das pessoas como se fosse uma verdadeira
“lavagem cerebral” que continha a sociedade. O Maestro Mouta foi substituído
por José Pedro de Alcântara, musicista talentoso e inspirado compositor, que
tudo fez para manter um elevado padrão artístico nos seus dirigidos. O Padre
Sadoc através de suas memórias escritas no livro Origem da Cultura Sobralense (2005)
ressalta outra importante contribuição para a música na cidade de Sobral,
quando relata que entre os compositores sobralenses, além dos já mencionados, se
destacavam o maestro Acácio Alcântara, este nascido em 7 de setembro de 1899.
O maestro
Acácio Alcantara foi o primeiro pianista e autor de inspiradas canções
sacras e profanas, criador de valsas e música ligeira de alta qualidade, tendo
várias composições impressas em Belém do Pará. Esse compositor e outros mencionados,
por serem possuidores de verdadeira criatividade artística e terem sempre
permanecido na cidade natal devem ser considerados os mais autênticos
compositores sobralenses.
3.1. Tecendo do ontem aos atuais caminhos
históricos e culturais da música no município de Sobral
Sobral é uma cidade que fica localizada na zona norte
do estado do ceará e hoje conta com mais de 180 mil habitantes. A cidade que é
tombada como patrimônio histórico (IPHAN) sempre apreciou muito a cultura e é
um celeiro de muitos músicos e artistas. Dela saíram grandes nomes que fizeram
e fazem parte do cenário musical e até hoje fazem sucesso no Brasil e no mundo,
dos mais famosos cidadãos naturais de Sobral, tem Antônio Carlos Gomes Belchior
Fontenelle Fernandes, ou simplesmente, Belchior. Sem contar da figura ilustre
de Renato Aragão (Didi).
Um rapaz latino-americano como ficou conhecido Belchior
por causa de uma de suas músicas, o compositor nasceu em Sobral em 26 de
Outubro de 1946, durante sua infância foi cantador de feira e poeta repentista.
Estudou musica coral e piano com Acaci Halley, foi programador de radio em
Sobral, e em Fortaleza começou a dedicar-se a musica após abandonar o curso de medicina. Ganhou proporções
e fez sucesso no Brasil após ter ligado-se a um grupo de jovens compositores e
músicos como Fagner, Ednardo, Rodger, Teti, Cirino e outros ficando conhecidos
como o Pessoal do Ceará. De 1965 a 1970 apresentou-se em festivais de música
pelo nordeste.
Músicos sobralenses que fizeram história como Laerte
Mello e Vicente Lopes que foi parceiro de Ednardo, destacam-se por terem
representado e divulgado a cultura sobralense em antigos festivais de música
popular como Mandacaru e FEMUP que ocorreram em Sobral em meados das décadas de 1970 e 80.
Em 24 de
novembro de 1957 nascia um poeta, músico e compositor sobralense de nome Laerte
Melo. Melo começou cedo a compor, antes de concluir o ensino médio. Apesar de
não ter tido o crédito que merecia como artista, viveu intensamente noites e
constelações, estradas e velocidades. Morreu e foi homenagiado tendo registrado
suas músicas na gravação de um CD (in memoriam) no ano de 2001, contendo várias
de suas obras interpretadas por familiares e amigos.
Atualmente a
música produzida na cidade é divulgada por meio de gravações e produções
independentes, ou seja, CD sem selo de gravadora, ou por meio de festivais da
canção como: Festival de Inverno da Serra da Meruoca; Canta Sobral que apesar de enfrentar problemas de
estrutura, há mais de uma década tem revelado grandes interpretes e
compositores na cidade, e recentemente o Festival de Música de Uruoca, que
recebe artistas sobralenses para competirem prêmios de incentivo à composição e
a interpretação.
A nova safra de músicos e compositores sobralenses
mostra o interesse incessante destes artistas de apresentarem suas obras para
um público ainda maior. O compositor Régis Brito que é um exemplo contemporâneo
dessa nova safra e trás em seu álbum musical todo o amor que tem pela região ao
cantar a beleza das serras que cercam Sobral.
Vale ressaltar que ainda hoje músicos sobralenses
participam de eventos nacionais, como é o caso dos músicos: Kelly Brasil,
Aristides Gomes e Gleydson Frota (o autor) que se apresentaram no IV Empório da
Música realizado em Goiânia – GO em novembro de 2009. O encontro reuniu profissionais
da música e produtores musicais de todo o Brasil para, apresentações
artísticas, debates sobre cultura, arte e educação. Na ocasião foi divulgado
como amostra musical, o show intitulado Cancioneiro Cearense que teve como
proposta o resgate da música cearense produzida na década de 70 de onde saíram
grandes nomes que colocaram o estado do Ceará na mídia nacional.
4. Escola de Música de Sobral: Inicio e papel social na formação
cultural dos novos sobralenses
O
projeto de implantação da Escola de Música de
Sobral teve inicio com a contratação de
um quinteto de cordas em 1998, contando com o maestro Paraguai e músicos vindos
do Rio Grande do Norte, mas só foi oficialmente criada através de um decreto datado
em 23 de Janeiro de 2001 na gestão municipal de Cid Ferreira Gomes. Segundo
análise do decreto era necessária à criação da escola, pois:
Considerando, a necessidade de desenvolver
uma política social integrada e abrangente que contribua para a emancipação da
comunidade, visando o resgate dos Direitos da Cidadania da Criança e do
Adolescente, no município de Sobral e; considerando, a possibilidade de
desenvolver uma ação educativa crítico-criativa, visando à formação,
qualificação, requalificação e profissionalização de músicos instrumentistas
eruditos e populares, bem como a formação de grupos musicais como: camerata,
quarteto e quinteto de cordas, grupo de flauta doce, banda de MPB, orquestra e
música de câmara em geral; Finalmente, ser necessário oferecer condições para o
desenvolvimento da capacidade expressiva e sensibilidade artística, com vista
para o desenvolvimento da criatividade.
Em 26 de setembro de 2003 foi
inaugurada sua sede própria no Centro da cidade que até hoje está localizada na
Avenida Dom José nº 1126. A escola funciona nos três turnos: manhã,
tarde e noite tendo como missão ensinar
música para crianças e adolescentes, jovens e adultos, visando o
desenvolvimento de competências e habilidades artísticas, buscando a formação
profissional, a educação estética, a melhoria da auto-estima e do desempenho do
educando junto ao ensino regular.
Com a reforma das instalações
atuais da escola ocorre à contratação de um grupo maior de professores e
instrutores iniciando assim uma jornada maior no processo de ensino musical na cidade
com atuação mais efetiva, trazendo então para complemento os seguintes cursos: violão
popular, guitarra, contra baixo acústico e elétrico, teclado, técnica vocal,
violino, viola, violoncelo, flauta doce e transversal, bateria, percussão,
instrumentos de sopro metais e madeira, além de possuir práticas instrumentais
e corais para apresentações na cidade que geralmente são solicitadas pela
população, órgãos públicos, etc.
Em 15 de maio de 2007 a
Câmara Municipal de Sobral aprovou e sancionou a lei que tornava oficializada a
escola com o nome de Escola de Música de Sobral Maestro José Wilson Brasil em homenagem
ao maestro José Wilson Brasil por dedicar-se com muito vigor em ações a banda
de música na cidade. O Maestro José Wilson filiou-se a primeira banda de música
de Sobral e destaca-se por ter sido um grande colaborador de Dom José Tupinambá
da Frota. Desde pequeno mostrou talento pela arte e optou pela música
tornando-se assim um grande profissional.
A Escola de Música foi entregue
a sociedade com o intuito de trazer valores através da música que beneficiam a
comunidade, sobretudo a oportunidade de livrarem jovens e adolescentes do ócio,
das drogas dando-lhes opções ou simplesmente para uma prática prazerosa através
da apreciação musical.
Em todos os casos e em infinitos outros, a
música funciona como estímulo a comportamentos; ou por quem a executa quer nos
introduzir a fazer determinada coisa, ou porque nós mesmos a tomamos como
estímulo. Música como droga? Também, com certeza. Música como terapia? Claro,
por que não? STEFANI (1987, p. 16)
Outro objetivo da escola é a
utilização da música como forma de integração social, considerando que através
da música e da prática de um instrumento musical pode-se trabalhar o lado da
sensibilidade das pessoas e assim melhorar o convívio de todos com a
comunidade, gerando valores importantes como respeito, ética, companheirismo,
amizade, etc. Da mesma forma, busca mostrar para seus discentes noutra
perspectiva de aprendizado através da música.
Segundo Stefani
(1987) a música afeta as emoções, pois as pessoas vivem mergulhadas em um
oceano de sons. Em qualquer lugar e a qualquer hora respira-se a música, sem se
dar conta disso. A música proporciona sentimentos, que são experiências da
vida, e constitui-se como fator importantíssimo para a formação do caráter do
indivíduo.
A proposta pedagógica da
escola tem como vertentes norteadoras dois caminhos que estão destacados a
seguir:
Formar cidadãos com sensibilidade musical e
apurado senso estético, conhecedores da arte e da cultura e da sua importância
como elementos constitutivos do processo histórico de humanização do homem;
Formar profissionais da música, aptos a atuarem em diversos
dos campos oferecidos pela escola, qualificados legalmente como tal.
A escola atualmente atende a
um público variado, em sua grande maioria de jovens oriundos da rede de ensino
público municipal que são automaticamente isentos de qualquer taxa e
representam 75% das vagas, sendo que, 25% delas são destinadas a população em
geral que deseja estudar música na escola mediante ao pagamento de taxa mensal.
Outro público que recebe apoio
é o de projetos sociais que são encaminhados por instituições creditadas à prefeitura
municipal e
fazem parte do contingente da escola. São jovens que cumprem medidas sócio-educativas, sofreram
algum tipo de penalidade ou fazem tratamento psiquiátrico sejam deficientes
mentais ou dependentes químicos. Os projetos atendidos são:
·
CAP’S - Centro de
Atenção Psicossocial (portadores de necessidades educativas especiais);
·
Liberdade Assistida
(jovens em cumprimento de penas alternativas);
·
Projeto Oficina Escola
de Artes e Ofícios e
·
Vida que te quero Viva
(protagonismo juvenil).
Os profissionais que estão à
frente desses projetos inseridos na instituição reconhecem na educação musical
uma maneira de ajudar seus pacientes na busca por contribuir de forma positiva e
desenvolver quadros clínicos mais satisfatórios em seu público atendido.
A importância da prática de
tocar um instrumento musical é defendida como mecanismo facilitador para o
convívio social, Snyders (2008, p.33) destaca:
Tocar um instrumento, participar de um
conjunto vocal ou instrumental: há um prazer evidente na atividade musical.
Toda atividade – sobretudo quando sentida como uma atividade bem-sucedida – dá
prazer. O executante adquire uma familiaridade feliz com os sons, as
estruturas, os desenvolvimentos musicais.
Os PCNs (2001) dão à devida
importância para a prática musical e enfatizam sobre a importância do diálogo e
do envolvimento de todos para se chegar a um denominador comum no processo de
ensino/aprendizagem da sociedade como um todo.
4.1. Interfaces dos
fazeres artísticos e pedagógicos sob olhar do músico e pedagogo
Constitui-se parte desta pesquisa relatar e analisar
fatos e ações de nossa experiência enquanto educador musical no lócus da sala
de aula, portanto nos incluímos nesta pesquisa a partir da ótica da docência no
processo de ensinar e aprender a linguagem musical. Portanto a docência da
linguagem musical faz-se na compreensão crítica da prática educativa exposta
nos componentes fundamentais presentes no pensamento freiriano (1996), que nos diz
sem os quais não há educação, quando se pronuncia:
a) Presença de
sujeito. O sujeito que ensinando aprende e o sujeito que aprendendo ensina.
Educador e educando.
b) Objetos de
conhecimento ou que o professor (educador) deve ensinar e que os alunos
(educandos) têm que aprender. Conteúdos.
c) Objetivos mediatos e imediatos a que
se destina ou se orienta a prática educativa. É justamente esta necessidade de
ir além de seu momento atuante ou do momento no qual se realiza – diretividade
da educação – que, não permitindo a neutralidade da prática educativa, exige
que o educador assuma, de forma ética, seu sonho, que é político. Por isso,
impossivelmente neutra, a prática educativa coloca ao educador o imperativo de
“decidir”, portanto, de “romper” e de optar por um sujeito participante e não
por um objeto manipulado.
d) Métodos,
processos, técnicas de ensino e materiais didáticos que devem estar em
coerência com os objetivos, com a opção política, com a utopia, com o sonho que
está impregnando no projeto pedagógico. FREIRE (1996, p. 55).
Neste
enunciado Paulo Freire nos deixa um legado que resume a essência do trabalho
docente, que não está resumido apenas no fazer musical, mas na união dos três
eixos do conhecimento musical: o apreciar, o fazer e o contextualizar. Nesta
compreensão o apreciar diz respeito ao desenvolvimento da percepção e gosto
sonoro que permite ao educando conhecer novas sonoridades e estilos musicais. O
fazer musical refere-se à competência técnica, ou seja, a produção que
oportuniza aos educandos a criação, a improvisação e interpretação musical. O
terceiro eixo interliga o sujeito apreendendo a sua história que pela
contextualização histórica relaciona os saberes e conhecimentos produzidos da
vida e obras e seus autores.
Dessa
forma o educador dentro da sala de aula busca através de práticas pedagógicas, perceber
nos educandos suas dificuldades de aprendizagens em seus respectivos
instrumentos musicais e no próprio relacionamento com os outros colegas no
decorrer do processo criativo da produção musical. Ao receber este educando em
sala de aula percebe-se o quanto este chega à Escola de Música trazendo
esperanças objetivadas pela vontade de tornar-se artista.
Estes sonhos estão ancorados
a partir da nossa compreensão e percepção enquanto educador de existir nestes
egressos uma necessidade de serem valorizados e se destacarem como pessoas
prestigiadas no contexto onde estão inseridas, visto que estes educandos em sua
grande maioria são oriundos de escolas públicas ou de outras escolas do sistema
formal de ensino, que costumam privilegiar os conteúdos e resultados traduzidos
em notas, menosprezando outras habilidades e competências que são portadores
estes educandos.
A escola dita como regular apesar
do discurso progressista tem como foco principal resultados em vestibulares ou
exames nacionais classificatórios e está longe de ser o educando, uma peça
importante em suas atividades, massificando-o em seus saberes, assim acaba por
discriminá-lo não respeitando suas individualidades, acarretando sentimento de
baixa estima ou o exacerbado espírito de competição que anula a essência do
processo criativo, impedindo-os de serem notados e reconhecidos enquanto
cidadãos.
Na música o processo de
aprendizagem funciona de forma diferenciada, uma vez que a construção do
conhecimento efetiva-se pelo diálogo e trocas de experiências e nesta
dialogicidade freiriana estas pessoas sentem-se acolhidas nos seus saberes e anseios
de reconhecimento e valorização e ainda se consideramos a dinâmica da produção
musical cuja apreciação revela-se no palco dos eventos promovidos pela escola de
Música.
Por ser o músico um
profissional que atua em shows, eventos musicais, apresentações e muitas vezes
por estar evidenciado nos palcos desperta nas pessoas um fascínio, ou uma
ilusão de que o músico desperta sentimento de apreciação. A música tem esse
poder de despertar nos indivíduos uma atenção maior para aqueles que a executa
gerando expectativa por parte do público que desencadeia a formação de mitos
observados em comportamentos de fãs de artistas que chegam até a fazer loucuras
para ter acesso ao seu ídolo.
A ligação desse artista
músico com a profissão de educador professor de música fica ainda mais forte,
pois para aqueles que buscam estudar música, em muitos casos, também buscam fazê-lo
não apenas por que gostam, mas também para se tornarem ídolos momentâneos para
a turma da escola ou ainda aprender a tocar violão para conquistar as
menininhas e ser “o cara” popular. O músico professor torna-se para muitos
desses apreciadores e estudantes da música, um espelho de referencia onde são
destacados como figuras a serem copiadas pelos estudantes, ou seja, tornam-se seus
ídolos.
O educador musical tem a
importante missão de saber interagir enquanto músico e pedagogo percebendo de
fato qual o seu papel enquanto facilitador, buscando despertar em seu público o
interesse pela a música sem deixar de lado todos os benefícios, que mesmo sem
ser notados pelos jovens, proporcionam a sua própria formação enquanto cidadãos.
O professor de música formado
em pedagogia tem um olhar diferenciado em sala de aula, pois consegue além de
ter como facilitador todos os procedimentos metodológicos que se constituem a
ciência, uma formação acadêmica na área de humanas podendo assim utilizar-se da
música como um meio ou como fim para construção humanizadora das pessoas
através da junção da pedagogia e da música.
5.
Trilhando os caminhos metodológicos e das análises da pesquisa
A investigação teve como
procedimentos metodológicos uma pesquisa de estudo de caso e possui natureza
descritiva com abordagem qualitativa e análise documental e bibliográfica. A
pesquisa qualitativa preocupa-se em investigar aspectos da realidade, que não
podem ser quantificados, que neste estudo de caso está em consonância com os
propósitos desta pesquisa sobre a educação musical como possibilidade de
inclusão social de crianças e jovens ingressos na escola de Musica de Sobral.
Dando suporte a esta pesquisa de abordagem qualitativa nos ancoramos
ainda, nas idéias de Chizzotti (1995 p.79-83): “... todas as pessoas que
participam da pesquisa são reconhecidas como sujeitos que elaboram
conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que
identificam.” O autor ressalta que estas pessoas são possuidoras de um
“conhecimento prático, de senso comum e representações relativamente elaboradas
que formam uma concepção de vida e orientam suas ações individuais”.
Neste prisma consideramos que os participantes desta pesquisa são
colaboradores à medida, que produzem conhecimentos significativos nas relações
estabelecidas entre professor, aluno e o contexto onde nos inserimos, portanto
numa relação dialética que no dizer de Minayo (1994, p.24) tem como finalidade:
“A Dialética pensa a relação como uma das qualidades dos fatos e fenômenos,
busca encontrar, na parte, a compreensão e a relação com o todo; e a
interioridade e a exterioridade como constitutivas dos fenômenos”.
O estudo efetivou-se
com foco na observação das ações realizadas na instituição,
entrevistas semi-estruturadas, bem como, dos fenônemos ocorridos no lócus da
sala de aula e da Escola enquanto espaço da pesquisa, no intuito de ampliar os
conhecimentos sobre o assunto.
Na primeira etapa realizamos uma
leitura bibliográfica de autores relacionados ao assunto e relacionados à
história e memória da música no contexto social da cidade de Sobral e na
segunda, uma pesquisa de campo no local onde as pessoas responsáveis (diretor,
coordenador, docentes, discentes e Pais de educandos) pela prática da educação
musical na escola responderam a uma entrevista e questões abertas em forma de
diálogos relacionadas ao tema.
5.1. Análise das entrevistas
Sobre a Escola de Musica no município de Sobral perguntamos
ao diretor da instituição o que achava da atuação da Escola na cidade de
Sobral, ele respondeu ser louvável o fato de ter uma escola de música no
interior do nordeste nos dizendo em seu discurso:
Acredito que ter uma escola de música,
pública em uma cidade do interior do Ceará, no nordeste brasileiro é um fato
que merece destaque. Se essa escola consegue ser, além de um projeto social, um
centro de formação profissional e um centro de formação estética, melhor ainda.
Indagamos ao diretor enquanto gestor da Escola de Música sobre o papel que
a Escola desempenha a nível social e como veículo de formação de valores e
atitudes dos educandos. O mesmo nos respondeu que é de fundamental importância
manter a instituição sempre ativa, pois a mesma atua como um projeto permanente
de ação e integração social onde busca valorizar a interação e socialização
desses jovens e ao mesmo tempo funciona como um centro de referência musical na
cidade e região. Ensinado a esses estudantes novas técnicas e teorias em seus
instrumentos musicais.
Quanto
ao perfil dos educandos entrevistados constatou-se que se trata de um
público variado de classes sociais diferentes oriundos de escolas públicas e
particulares. Os estudantes questionados são pessoas de faixa etária entre os 13 a 30 anos, que doravante
intitulamos de alunos A, B, C, D e E. Os pesquisados residem em diferentes
bairros na cidade de Sobral e são de realidades completamentes distintas, mas
quando se encontram em na escola em sala de aula, buscam algo em comum,
aprender música.
Atráves da convivência com outras pessoas e com
a própria música, notou-se que o comportamento dos pesquisados tem mudando para
melhor, pois passaram a ser pessoas mais sociáveis. Por meio da prática musical
saudável observou-se que os alunos mantinham uma relação de cumplicidade respeitando
as diferenças dos diversos gostos musicais existentes no âmbito da Escola de Música.
Foram entrevistados pais de estudantes da
Escola de Música e os pais A e B em entrevista, afirmaram estarem sastifeitos
com a Escola destacando a necessidade de sempre mantê-la ativa na sociedade. Assim
relata:
A escola é muito importante, pois evita nossos filhos
estarem nas ruas fazendo o que não presta.
No
entanto o pai C faz uma reflexão questionável sobre a educação musical quando
fala que prefere que seu filho apenas estude na escola regular:
Acho que ele
está se dedicando muito só na música e deveria se preocupar mais com a escola.
Analisando as respostas dos pais dos alunos A e B
podemos perceber que estes pais não destacam a música como fundamental por
talvez não conhecer sobre a importância da música no processo de formação
cidadã, contrariando os PCNs de Arte (2001, p.77) quando nos diz: “Para que a
aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadãos é
necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como
ouvintes, intérpretes, compositores, e improvisadores dentro e fora da sala de
aula”.
Quanto ao discurso do pai C podemos analisar que os
pais acham importante estudar música desde que não atrapalhe os estudos na escola
formal. Seguindo com as entrevistas, segundo depoimento do coordenador pedagógico
da Escola descreve que em meados de 1974 existia em Sobral uma Escola de Música
pública que funcionava nos moldes de um conservatório e tinha uma ligação muito
forte com a banda de música da cidade, pois ensinava apenas instrumentos de
sopro como forma de preparar os futuros músicos da banda.
O coordenador
relata também das dificuldades de se ver a música como profissão, quando era
adolescente estudou música nesta escola, mas seu pai sempre o advertia dizendo:
Menino, música é coisa de malandro! Música não é
profissão! Música é pra quem não tem nada pra fazer, é pra quem não quer pegar
no pesado, música não dá camisa a ninguém.
Este depoimento leva a refletir sobre as deficiências
que os estudantes de música têm de encarar a educação musical como algo que
serve para prepará-los para uma realidade melhor, pois se algumas pessoas não compreendem
a musica como importante, como então valorizará os profissionais (músicos e professores
de música) que atuam na área?
Ainda hoje se tem como premissa esse conceito de que a
música não deve ser subsídio para sustento de ninguém. A discriminação ainda
está presente e é realidade, mas ao poucos tem sido modificada e acredita-se
que em um futuro próximo os profissionais da música atuarão com mais respeito, cientes
da importância de seu papel na sociedade enquanto educadores musicais, ajudando
na formação das pessoas na busca conscientizadora de uma sociedade mais
humanizada.
Os professores entrevistados afirmaram que observaram
ao longo de seus cursos uma melhora no comportamento e na vida de seus alunos. O
professor A enfatiza:
Muitos são os alunos que passam pela escola de música
chegando aqui com sérios problemas afetivos, carências e problemas enfrentados
na família. Porém o que observa-se hoje após um tempo de estudo, são jovens
felizes com o ensino da música em suas vidas. E observa-se também, que sua capacidade de
aprendizado nas escolas regulares tem melhorado muito depois da música em suas
vidas.
O professor B que entrou na escola de música ainda
aluno e hoje leciona um instrumento erudito afirma que se não fosse à música em
sua vida ele poderia hoje estar marginalizado não tendo a oportunidade de ser o
que é hoje, um cidadão e continuou nos falando:
Eu sou o que
sou hoje por causa da música, o ambiente em que eu vivia era pesado e propício
a me levar a caminhos errados. A música me tirou dessa realidade.
O professor C quando entrevistado destacou a
importância e a missão de trabalhar música com alunos do CAP’S (Centro de
Atenção Psicossocial) e Liberdade Assistida e enfatiza:
A música é uma terapia que deixa as pessoas mais
calmas em especial, os alunos do CAP’S.
Nesse processo,
pode-se citar a música como terapia ou simplesmente um estudo recente chamado musicoterapia, que é uma importante
forma de tratamento clínico contemporâneo.
Foram analisados nas
entrevistas sobre o comportamento dos estudantes, que atráves da convivência
com outras pessoas e com a própria música, passaram a ser pessoas mais sociáveis,
pois notou-se que por meio da prática musical em suas vidas, os entrevistados
mantiveram uma relação de cumplicidade com o próximo através de estilos e
ritmos musicais, respeitando as diferenças e divergencias de diversos gostos
musicais existentes na escola de música. Foram abordados assuntos
referentes à prática musical dos alunos, suas experiências e habilidades.
Ao
referi-se a importância da música em sua vida o aluno A de 17 anos e que estuda
guitarra elétrica, relata:
Pra mim a
música é tudo na minha vida e a escola de música me ajudou a realizar a vontade
que tinha em aprender um instrumento. Respeito o gosto musical dos meus
colegas, pois quem respeita merece respeito.
Constatamos
que além de incluir a música permite a interação dentro da diversidade
cultural, assim existem diversos grupos musicais dentro da escola, tais como: Grupo de flautas e cordas, grupo de guitarras
e violões, bandas de música e bandas populares de MPB/Rock e as chamadas
práticas de conjunto que acontecem
regularmente na escola. São estudandes de vários cursos (bateria, baixo,
guitarra, sopro, violão, vocal) que se reunem semanalmente em uma sala para
ensaiar um repertório e tem como culminância apresentações em recitais da
escola de Música e mostra
musical solicitadas por diversos
setores sociais.
Quanto
a importância da música na inserção social dos educandos podemos exemplificar
com os relatos dos alunos B e C do curso
de bateria e contrabaixo, oriundos do CAP’S:
Fico muito feliz em saber que estou parcipando dessa
banda. Gosto quando o professor fica me elogiando dizendo que estou tocando
bem.
Percebeu-se que a partir do convivio social e
da interação entre os jovens dentro de um contexo escolar tem ajudado na busca
do aprendizado visando a socialização dos mesmos para uma relação de respeito, de compreensão
e valorização ao coletivo, tendo em vista, ações que elevem a auto-estima e ao
bem de uma sociedade mais humana e menos desigual.
Na troca de experiencias e vivencias musicais, os
jovens passavam por afinidades e conflitos mas sempre chegavam ao prazer de ter
com a música, o renovo e as alegrias que essa arte proporciona. Segundo Snyders
(2008, p. 81):
A experiência mais familiar aos jovens é a da música.
É notório ver o quanto a música toma conta desse público, pois não apenas em
sua forma e estética musical persiste tal apreciação, mas no que se refere ao
centro de sua existência, o conjunto de sua pessoa, coração, espírito e corpo.
Ela nos agarra, sacode, invade, até impor-nos um determinado comportamento, um
determinado jeito de ser. E, com frequência, os alunos vivem a música
como uma pressão em direção a movimentos ritmados e cantarolares initerruptos.
Na escola tem dois tipos de clientela: aqueles que são isentos de qualquer
taxa, pois são estudantes oriundos de escolas públicas e os estudantes vindos
de outras instituições particulares que são pagantes. O aluno D do curso de guitarra tem 25 anos e está se formando em
medicina pela a UFC. Assim este aluno destaca sua opinião:
A
escola de musica na cidade é uma entidade muito conceituada e reconhecida, sua
participação na cidade é muito importante, pois ela promove vários eventos que
integram a população. Eu acho importante, pois permite desenvolver tanto as
habilidades musicais, como compartilhar com outras pessoas, as experiências que
eu tive e as dificuldades, podendo assim aprender mais com professor e com o
outro.
Nesse
discurso percebe-se o quanto a Escola de Música na cidade é necessária, pois em
sua fala o entrevistado aponta pontos norteadores das ações traçadas como
objetivos pela a instituição e destaca isso como relevante para a sociedade
sobralense.
Os
jovens vêem na música um discurso ligado a sua formação enquanto pessoa,
buscando a complementação de seu ser, em seus estilos de vida, no vestir-se ou em
correntes de pensamentos ligados as bandas e artistas apreciados por eles. Buscam
se conhecer melhor e entender-se nesse processo de construção de seu próprio caráter
ou mesmo como se constituirem parte de um grupo social, por isso utilizam
espaços públicos como a escola de música para encontros e troca de experiências
com outras pessoas.
A
música passa a ser um intrumento de molde de carater comportamental ao mesmo
tempo que agarra, sacode, invade, até impor um determinado jeito de ser. Na
medida que uma pessoa mantém uma
postura violenta e rebelde, por exemplo, parte desses atos podem ser analisados
através de seu gosto musical. O que importa aqui não é afirmar que
necessáriamente uma pessoa que escuta heavy
metal (música com caracteristicas sonoras “pesadas”) com letras satânicas
deverá ser no futuro um serial killer,
mas sim como fazer uma análise pscicológica de determinadas atitudes
presenciando os gostos musicais das pessoas como ponto de partida para estudos.
Constatou-se também que a escola possui
inúmeros estudantes que querem seguir na música uma carreira e a consideram
como fator fundamental em suas vidas. Por outro lado, sobre ótica negativa, observou-se
que muitos estudantes da escola desistem do curso por não verem na música uma
oportunidade de emprego e trabalho priorizando outros cursos, a exemplo
da computação e inglês, por se destacarem
mais no mercado de trabalho.
Boa parte da sociedade não aceita a música como
prioridade o que se contitui um verdadeiro paradigma merecendo um
aprofundamento ainda maior sobre o assunto. A questão é: a música sendo tão
importante na vida das pessoas e sendo vista como algo fundamental, porque
então não reconhecê-la enquanto trabalho e renda? Fica aqui esse questionamento
a ser melhor aprofundado.
6. Considerações Finais
Neste estudo
visamos conhecer informações importantes acerca da música
presente na cidade de Sobral, visto que, desde o século XIX mantém uma tradição
e ligação muito forte com a arte musical. Analisamos as contribuições da
música e da proposta da Escola de Música de Sobral ou Escola de Música Maestro José Wilson Brasil como é oficialmente chamada
no processo de formação de educandos na construção da cidadania como educação proposta
de inclusão social.
A música permanece sendo
um importante elemento de socialização das sociedades e não poderia ser
diferente com Sobral, o município tem uma rica história e memória que remonta
desde 1813 e que a Escola de Música é uma importante instituição com objetivos
de meta social fundamentais para a população sobralense.
Compreendeu-se que os professores, diretor e coordenador da instituição,
têm uma visão muito focada e considerável sobre a importância da educação
musical para a formação de seu público. As observações e entrevistas foram
fundamentais para a verificação sobre a concepção do que se tem como prática da
educação musical na cidade de Sobral.
Quanto
à compreensão dos pais dos alunos que aqui representaram a sociedade sobralense
sobre a importância da música na formação dos seus filhos podemos dizer que a
música permanece em segundo plano no que concerne à importância dada pelos pais
a educação escolar.
Detectamos
que a educação pela música contribui para a valorização e inclusão de jovens e
de e crianças fortalecendo-lhes a identidade pela formação cidadã, no entanto o
estudo revela existir uma desvalorização por parte do mercado profissional,
pois mesmo considerando a música importante para sua realização pessoal, inúmeros estudantes não querem seguir na música por não verem
oportunidades.
Constatamos
também que através da música pode-se haver uma melhora na formação cognitiva,
afetiva, cultural e enquanto instrumento de cidadania, e ainda na construção e
reconstrução dos vários estilos e gêneros musicais existentes a partir das
representações culturais dos educandos.
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